sumário
apresentação
quadrinhos com história...
religião em quadrinhos
quadrinhos ou arte sequencial
um brevíssimo histórico
quadrinhos e religião
uma combinação incomum
ensinando com quadrinhos
história das religiões
não é ensino religioso
e agora... é só desenhar?
atividades
referências bibliográficas
agradecimentos
2
3
7
11
19
23
27
33
38
40
apresentação
As pesquisas sobre história das religiões e religiosidades têm crescido
muito no universo acadêmico. Na sala de aula, no entanto, ainda
permanece lacunas sobre como problematizar as questões religiosas com
os alunos. Para suprir parte desta dificuldade, Daniel Clós Cesar nos
apresenta a obra ‘‘Quadrinhos e Religião: cristianismo, islã e judaísmo nas
histórias em quadrinhos’’, desenvolvida junto ao Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade de Caxias do Sul – UCS, cujo
objetivo centra-se na relação da utilização dos quadrinhos para o ensino de
história das religiões.
As histórias em quadrinhos remetem a ideia de entretenimento e, por isto,
sua utilização na educação básica possibilita o desenvolvimento de uma
atividade prazerosa, que pode possibilitar grandes ganhos para a
discussão do tema proposto. Apesar da seriedade de uma temática frente
ao potencial de diversão da outra, religiões e quadrinhos não são temas
distantes. Há tempos as tirinhas ou as narrativas de arte sequencial trazem
informações, discussões e provocações sobre as questões religiosas.
Nesta obra, o autor busca instrumentalizar o professor para a discussão do
tema por meio das histórias em quadrinhos. Disponibiliza informações
sobre o estudo das religiões e religiosidades, sua relação com a arte
sequencial e os meios de abordá-las em sala de aula. As formas de utilizar
os quadrinhos são apresentadas através de instrumentalização teórica e
diversas atividades. Não é proposta do autor, ensinar professores e alunos
a desenhar. Isto poderia gerar a recusa do educando em participar das
atividades por não possuir qualidades artísticas.
Agora que o livro está nas suas mãos, aprenda, divirta-se e acompanhe o
autor nas suas reflexões e propostas para o ensino de religiões e
religiosidades através dos quadrinhos.
Cristine Fortes Lia
01.
quadrinhos com história...
religião em quadrinhos
Uma breve explicação
Escrever sobre história das religiões é um assunto relativamente novo, isso
quando levado em conta o campo de conhecimento da História, diferente
de outros campos do conhecimento como a Filosofia, a Antropologia e o da
Sociologia. Mas quando atem-se ao campo da historiografia, a abordagem,
principalmente nos livros didáticos, é limitada e bastante conservadora.
História das religiões é comumente confundida com ensino religioso.
Ensinar história das religiões para muitos professores de história é
incomodo, pois muitos tendem a ver o ensino de história das religiões como
defesa de um credo ou disseminação de uma religião. O ensino de história
das religiões no ensino médio e fundamental é quase inexistente. O que
existe é um apanhado de pequenos quadros explicativos – que pouco ou
nada explicam – sobre religiões do passado. Esses quadros e comentários
encontrados nos livros didáticos vão na contramão dos temas transversais
como a pluralidade cultural, pois não são utilizados para criar mecanismos
QUADRINHOS & RELIGIÃO
3
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
de integração e aproximação os diferentes credos, pelo contrário, apenas
reforçam visões de dominação, preconceito em relação a povos onde o
atraso cultural é considerada uma consequência da religião e afastamento
do diferente.
Percebe-se ainda, principalmente nos livros didático, uma desconexão do
ensino das religiões e religiosidades com o ensino de história. Ainda que a
própria historiografia afirme, de alguma forma, profunda ligação da religião
com o Estado, com o cidadão, com a cultura e como modo de vida de
diferentes sociedades, ao chegar na sala de aula este conhecimento é
descaracterizado e transformado em “partículas de saber” ministrados em
doses desconexas.
Os livros ainda contam com comentários e quadros temáticos que fazem
apenas classificações e generalizações entre povos monoteístas e
politeístas, ao antropomorfismo dos deuses e um modelo que se aproxima
de quadros comparativos religiosos, que por fim, acabam por premiar
determinadas crenças em detrimento de outras, que na forma que são
apresentadas parecem representar povos atrasados, derrotados e
esquecidos. O que em seu “auge” era significativo para a construção de
uma sociedade é hoje abordado como simples fato mitológico de um povo
antigo e que não possuí nenhuma conexão com o presente.
4
aPÓs a MorTe
Do PresiDenTe Da
lÍBia, gaDDaFi.
uM Jornal PuBlicou
uM quaDro ‘eXPlicaTivo'
De coMo É realizaDo
o enTerro no islã.
É PossÍvel oBservar
que eM ToDa a
eXPlicação esTÁ
rePleTa De signiFicaDos
religiosos, Mas eles não
são DeviDaMenTe
eXPlicaDos.
Infográfico foi publicado em 24/10/2011 no Folha.com
QUADRINHOS & RELIGIÃO
5
Se diferente do ensino de história das religiões, o uso de HQs em sala de
aula não possa ser considerado um tema relativamente novo, pois não é
difícil desde a década de 1990, encontrar um bom número de títulos
tratando do assunto. Apesar disso histórias em quadrinhos são vistas com
bastante regularidade como uma leitura secundária, uma arte menos
nobre e portanto menos importante para o ensino, seja de história,
literatura ou matemática.
Imediatamente o que se observa é que, tanto o ensino da história das
religiões como as histórias em quadrinhos, têm interpretações
equivocadas daquilo que realmente são e podem “fazer” em sala de aula.
Ensino de história das religiões não é ensino religioso.
Quanto aos quadrinhos, ainda que mesmo programas do governo e
educadores tentem conceituar HQs como um “tipo” de literatura, e por
consequência desse conceito, uma literatura secundária, um tipo de
“iniciação para leituras mais profundas e complexas”, como afirma
Ramos: “quadrinhos são quadrinhos” (2012. p. 17), logo, precisam ser
vistos como uma linguagem autônoma de outras, tanto em sua criação
como em sua concepção.
Ao observar diferentes ferramentas de ensino, percebe-se que as
histórias em quadrinhos, por peculiaridades como: a união da imagem e
do texto, a universalização de sua leitura e a possibilidade de sua
produção por qualquer pessoa com um simples lápis, tornam-se uma
ferramenta singular no ensino de história das religiões, pois, dialoga com a
ilustração, com a literatura, com a fotografia, com o cinema etc.
Cabe também salientar algumas semelhanças dos quadrinhos com o
ensino de história: são narrativas; apresentam personagens e fazem uso
da imagem como ilustração do texto escrito (aqui fazendo uma distinção
do texto imagem para o texto escrito). Logo, ainda que um professor de
história tenha pouco acesso a histórias em quadrinhos e elas não façam
parte de sua leitura cotidiana, o formato e a construção de uma HQ não é
muito diferente da construção de uma narrativa histórica, uma história em
quadrinhos é basicamente uma narrativa.
02.
quadrinhos ou arte sequencial
um brevíssimo histórico
Muito brevíssimo mesmo
QUADRINHOS & RELIGIÃO
7
Em 1895, no extinto periódico semanal New York World, surgia a primeira
história em quadrinhos. Um menino de pijama amarelo, que ficou
conhecido como Yellow Kid (Menino Amarelo), tornou-se o primeiro
personagem de um novo modelo de narrativa gráfica. Apesar das
narrativas gráficas, como as charges, que se popularizou ainda no início do
século XIX, já fossem empregadas em periódicos e publicações
impressas, Richard Fenton Outcault criava pela primeira vez o modelo que
hoje conhecemos como histórias em quadrinhos, dividindo a história
narrada em pequenos quadros seqüenciais dispondo os textos em
pequenos balões sobre os personagens.
Desde o início do século XX, as histórias em quadrinhos ocupam espaço
na mídia impressa. No Brasil, os primeiros personagens de narrativas
gráficas foram publicados em meados da década de 1930 pelo ítalo-
brasileiro Angelo Agostini. Pequenas histórias que eram ilustradas por
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
8
desenhos, mas que não seguiam o padrão da história em quadrinhos
criada anos mais tarde por Outcault.
As histórias em quadrinhos, diferente da charge que possuía um texto
fundamentalmente voltado para o público adulto ao satirizar a sociedade,
surgem voltadas para o público infantil, ainda que existissem alguns
personagens como Tarzan e Buck Rogers que eram publicados na revista
Amazing Stories tivessem objetivos pouco claros, mas eram
aparentemente voltados para o público adulto. Talvez por este motivo, as
histórias em quadrinhos tenham sofrido por grande parte do século XX,
preconceito quanto a seu uso como obra literária e por consequência,
como ferramenta de ensino e aprendizagem por educadores das mais
diversas áreas de conhecimento.
a PriMeira
HisTÓria eM quaDrinHos
conHeciDa coM o PaDrão
De Frases eM Balões
Foi a ProDução De
ouTcaulT:
o Menino aMarelo.
The Yellow Kid and his new phonograph publicada em 25 de outubro de 1896 no New York Journal.
No final da década de 1970, começam a aparecer no Brasil os primeiros
trabalhos acadêmicos que introduzem o uso das histórias em quadrinhos
como instrumento de ensino e aprendizagem. Em parte, pesquisadores
incentivados por diversas publicações latinas que fizeram uso das histórias
em quadrinhos no combate intelectual às ditaduras sul-americanas, como
a personagem Mafalda do cartunista argentino Quino, e as tiras do
Pasquim de Ziraldo, Jaguar e Henfil, com personagens como Sig e o Bode
Orellana.
QUADRINHOS & RELIGIÃO
9
É notável essa mudança que começa a ocorrer no final da década de 1970
e passa pelos anos de 1980. Pois, como literatura ou arte, as histórias em
quadrinhos foram nos anos anteriores, alvo de inclusive políticas de
Estado. Como na Itália fascista de Mussolini, onde foi proibida a publicação
das histórias em quadrinhos não italianas. Nos Estados Unidos, em
meados da década de 1950, uma publicação do psiquiatra Fredric
Wertham intitulada Seduction of the Innocent, tornou-se popular no meio
acadêmico estadunidense. Nela, Wertham acusava as publicações de
histórias em quadrinhos como responsáveis pela delinquência infanto-
juvenil e por promover ou fazer apologia ao homossexualismo, uso de
drogas e a violência. Seu trabalho foi relevante nas décadas seguintes nos
Estados Unidos, o maior mercado editorial de histórias em quadrinhos,
levando o Senado daquele país a proibir um grande número de títulos e
criar uma lista de palavras e conceitos proibidos nas publicações seguintes.
Na década de 1990, Will Eisner, célebre quadrinista estadunidense com
mais de 50 anos de atividade no meio e criador de uma dezena de
personagens populares nos jornais dos Estados Unidos, publicou dois
livros: Narrativas Gráficas em 1996 (no Brasil publicado pela primeira vez
em 2005) e Quadrinhos e Arte Seqüencial em 1985 (No Brasil publicado
pela primeira vez em 1989).
Voltados inicialmente para cartunistas iniciantes, seus livros acabaram por
preencher uma lacuna nos estudos sobre histórias em quadrinhos, pois,
apesar de Will Eisner não ser um acadêmico, nem tampouco buscar isso
com a publicação de seus livros, como quadrinista e roteirista de histórias
em quadrinhos produziu dois grandes manuais que conceituaram esse
formato e suas publicações tornando-se referência quando o assunto são
produção e leitura de histórias em quadrinhos.
A obra de Eisner também é importante, pois seu trabalho aborda com
bastante frequência o cotidiano da comunidade judaica nova iorquina do
início do século XX, e a temática religiosidade é bastante explorada em seu
trabalho em livros como Contrato com Deus e Fagin o Judeu, um de seus
últimos trabalhos antes de falecer em 2005.
No início da década de 1990 surge um novo estilo de publicação no
mercado editorial dos quadrinhos, a Graphic Novel (novela gráfica).
Mantendo a estrutura básica das histórias em quadrinhos, com quase um
século de existência, o mercado editorial amplificou o alcance das histórias
em quadrinhos. Agora, publicações extensas, alguns livros com mais de
quinhentas páginas e que demoram não dias, mas anos para serem
publicados, ampliam também a profundidade dos assuntos abordados. Na
mesma época, surge o comics journalism ou graphic journalism (jornalismo
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
10
em quadrinhos) tendo sua primeira publicação em 1993 com o livro
Palestina, uma nação ocupada, do jornalista e cartunista Joe Sacco, que
abordou a primeira intifada na Faixa de Gaza.
Nas duas últimas décadas tem sido realizada com grandes investimentos
a transposição dos personagens dos quadrinhos par as telas do cinema.
Antes disso, apenas alguns poucos filmes ousaram trazer para as salas de
cinema heróis como Super-Homem ou o Incrível Hulk. Com o advento de
novas tecnologias digitais, foi possível ampliar a gama de heróis e
personagens dos quadrinhos que “ganharam vida” na grande tela.
Personagens antigos e muitas vezes desconhecidos do grande público,
conhecidos antes apenas pelo nicho de colecionadores de histórias em
quadrinhos, como Constantine, Spirit e Watchmen, tornaram-se
mundialmente conhecidos, o que impactou de forma positiva o mercado
editorial de quadrinhos, dando a oportunidade para o surgimento de novos
escritores/cartunistas e ampliando a gama, inclusive geográfica, de novas
histórias e temáticas, o que por sua vez gerou maior interesse em
educadores de estudar e fazer o uso das histórias em quadrinhos em sala
de aula.
TeMas "sÉrios"
coMeçaraM a ser
TraBalHaDos nas
‘graPHic novels'
coMo no JornalisMo
eM quaDrinHos
De Joe sacco.
Durante a década de 2000, o jornalista e cartunista Joe Sacco retratou a vida em Gaza, na Palestina.
Notas de Gaza (2010)
03.
quadrinhos e religião
uma combinação incomum
É possível juntar tudo isso sim
QUADRINHOS & RELIGIÃO
11
Falar sobre a relação entre religiosidades e histórias em quadrinhos no
espaço escolar, transparece a ideia de algo inusitado. Os quadrinhos, em
geral, são vistos em sala de aula como uma proposta de entretenimento,
como uma estratégia de flexibilização dos rigores do texto escrito. No
entanto, a utilização da imagem na sala de aula não pode ser analisada
sob a luz da ausência da interpretação textual; a história visual é tão texto
quanto qualquer outra parte da escrita para aprendizagem.
Já na década de 1940, nos Estados Unidos, eram publicados quadrinhos
de caráter educacional, como a Real Fact Comics e a True Comics, que
abordavam histórias e biografias de personalidades estadunidenses e
eventos históricos. Nestas primeiras publicações consideradas pela
indústria dos quadrinhos como educacionais, a editora Educational
Comics, lança a revista Picture Stories from the Bible, com abordagem
religiosa em torno da cultura judaico-cristã. As edições contavam histórias
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
12
de passagens bíblicas, como a construção da arca de Noé e o dilúvio, a
crucificação de Cristo e a história dos patriarcas da cultura judaico-cristã.
Outras publicações consideradas educativas também eram publicadas
pela mesma editora, como Picture Stories from World History e Picture
Stories from American History.
O trabalho com a utilização da arte sequencial corresponde a um grande
ganho para o professor e para o aluno. Em parte pelo grande volume de
publicações disponíveis. A variedade de assuntos é extremamente ampla
e religião é um tema recorrente. No Brasil editoras como a Luz e Vida,
Paulinas-COMEP e Paulus, todas elas ligadas a instituições religiosas
cristãs, apresentam um grande número de publicações. Mesmo editoras
não ligadas a igrejas ou instituições religiosas lançam um grande número
de obras em quadrinhos com temática religiosa.
Histórias em quadrinhos fazem parte do cotidiano infanto-juvenil, sendo
inclusive uma leitura que continua na fase adulta, o que se constata no
grande número de edições voltadas para o público adulto. Como ressalta
Ramos, em uma matéria publicada para a Folha de São Paulo em 2 junho
de 2014: “É o gênero mais lido entre os homens e o sétimo mais listado
pelas mulheres. Especificamente entre estudantes até a quarta série, os
quadrinhos são o terceiro item mais mencionado”. Assim, a estratégia da
utilização dos quadrinhos como mecanismo de aprendizagem possibilita
ampliar a dimensão do texto, pois em geral, as histórias em quadrinhos
não sofrem rejeição ou preconceito dos seus leitores nas escolas, isto é,
os alunos. Pelo contrário, é comum verificar-se em estudos sobre o uso de
histórias em quadrinhos em sala de aula uma ampla aceitação e
motivação dos alunos para participar das atividades.
O desenvolvimento de um método que instrumentalize ao professor essa
estratégia ensinando-o não apenas como se utilizar da história serial, mas
também como produzi-la é o foco deste estudo, que busca primeiro
aproximar o docente da arte seqüencial, como por exemplo, de como é
feita sua leitura, qual o significado das imagens e tipos nos quadrinhos e
como podem ser organizados critérios para a escolha de uma história em
quadrinhos para ser trabalhada em sala de aula.
Entre as publicações de quadrinhos disponíveis no mercado brasileiro,
temos aquelas selecionadas pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola
(PNBE). Criado em 1997, apenas em 2006 foram selecionados por edital
as primeiras histórias em quadrinhos. De um total de 225 títulos
selecionados pelo Governo Federal aquele ano, 10 eram histórias em
quadrinhos.
QUADRINHOS & RELIGIÃO
13
Na busca realizada nos livros publicados pelo FNDE/PNBE, não é possível
encontrar um grande número de títulos que trabalham com o monoteísmo.
O principal foco ou preferência das edições selecionadas pelos editais são
as adaptações de obras literárias, como se pode ler no edital publicado em
2014: “Livros de imagens e livros de histórias em quadrinhos, dentre os
quais se incluem obras clássicas da literatura universal, artisticamente
adaptadas ao público de educação de jovens e adultos (ensino
fundamental e médio).
Até 2014, o PNBE contava com 5 histórias em quadrinhos com temática
religiosa: “História do Mundo em Quadrinhos” de Larry Gonick, “Deus
Segundo Laerte” de Laerte Coutinho e “Um Contrato com Deus” de Will
Eisner selecionados pelo edital de 2009. Em 2010 foram edições de “A
Busca” de Lies Schipperse e Ruud van der Rol e “Persépolis” de Marjane
Satrapi.
enTre 2006 e 2013
o Mec agregou ao
PrograMa ‘BiBlioTeca
na escola', 5 PuBlicações
que PoDeM ser uTilizaDas
Para aTiviDaDes De
HisTÓria Das religiões.
A maioria das edições ainda são estrangeiras. Alguns desses quadrinhos receberam diversos prêmios pelo mundo.
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
14
As publicações selecionadas pelo FNDE/PNBE são duas biografias, uma
ficção, uma coletânea de tiras cômicas e um paradidático de História que
aborda de forma ilustrada a “Ascensão do Mundo Árabe e a História da
África”.
Por tratar-se de um número de títulos bastante restrito, foi necessário
buscar no mercado nacional outras publicações para compor este
trabalho. Apenas no Brasil existem mais de 900 editoras registradas que
produzem histórias em quadrinhos, fazer uma busca em todas as editoras
é um trabalho impossível, levando-se em conta ainda o volume da
produção e a distribuição de muitas dessas obras. O objetivo deste livro
não é apontar uma lista de títulos a serem trabalhados, mas sim, em algum
momento, apresentar critérios qualitativos para seleção de histórias em
quadrinhos que servirão para o ensino de História das Religiões.
Existe um reforço pelas instituições de ensino de base no distanciamento
desse diálogo entre diferentes religiões e religiosidades, quando, o ensino
da “Religião” é delegado a representantes religiosos. Tendência essa que,
apesar da criação de cursos de especialização em ensino religioso
independentes de correntes religiosas, mas que encontra resistência na
própria Lei No 9.475 de 22 de Julho de 1997 que alterou a lei que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e que, apesar de
proibir o proselitismo no caput do art. 33, em seu segundo parágrafo dá
margens ao domínio de determinadas correntes teológicas:
Um avanço, é claro, em relação ao texto anterior, que delegava a
§ 2o os sisTeMas De ensino ouvirão enTiDaDe civil,
consTiTuÍDa Pelas DiFerenTes DenoMinações religiosas,
Para a DeFinição Dos conTeÚDos Do ensino religioso."
entidades religiosas a elaboração do programa de ensino, mostrando
claramente por parte do legislador e dos educadores, uma disposição em
entender o ensino religioso como um assunto secundário, ou marginal ao
ensino científico.
Mas onde as histórias em quadrinhos podem contribuir para esse diálogo?
A resposta pode estar na interdisciplinaridade oferecida por esta
ferramenta. Religião aparece nos Parâmetro Curriculares Nacionais nos
Temas Transversais Ética e Pluralidade Cultural. Entre os objetivos dos
PCNs, está a valorização da alteridade. Diferente de se fazer o uso de
livros sagrados ou publicados por correntes teológicas específicas, os
QUADRINHOS & RELIGIÃO
15
quadrinhos são um produto de acesso que sofre pouca ou quase nenhuma
discriminação por parte dos estudantes do ensino médio e fundamental.
Histórias em quadrinhos são interdisciplinares e já é bastante comum sua
associação ao ensino de Artes, História, e Língua Portuguesa, mas elas
também podem ser utilizadas no ensino de Sociologia, Filosofia e Religião.
No entanto, os professores ainda carecem de materiais com metodologias
para uso dos quadrinhos em sala de aula. Não são raras as publicações,
mas elas ainda focam muito na interpretação do texto verbal/imagem da
tiras e quadrinhos.
O objetivo é instrumentalizar o professor para não apenas trabalhar em
sala de aula a interpretação, abandonando um pouco daquilo que
Meneses acusa os historiadores de serem mais focados em ver a imagem
apenas como fonte de informação (MENESES, 2003, p. 11) mas também
cognitiva. Dessa forma, pode se ampliar para a aulas de História não
apenas a interpretação, mas a criação de quadrinhos, onde é possível não
ver apenas a leitura que o aluno faz uma imagem, mas também de como a
constrói.
Aprodução de histórias em quadrinhos no ensino de História das Religiões
pode levar a uma melhor compreensão da construção da cosmovisão
religiosa de cada um assim como entendimento das construções feitas
pelos outros. O que pode ser um mecanismo de aproximação entre as três
diferentes religiões monoteístas e servir como quebra de preconceitos.
O mais popular modelo de narrativa gráfica brasileiro parece ser mesmo a
charge. A charge no Brasil não só é popular, é também bastante
prestigiada. Nos periódicos brasileiros a charge ocupa espaço de
destaque, em geral, junto com a seção editorial do jornal. As charges dos
jornais brasileiros expressão a linha editorial daquele periódico. As
principais revistas e jornais do Brasil possuem cartunistas contratados,
alguns com algumas décadas de serviços prestados àquele grupo
editorial. Esse padrão é bastante similar ao modelo das publicações
estadunidenses. Como pode ser observado ao fazer uma breve
verificação no site Cagle.com, o mais importante repositório de charges
dos Estados Unidos atualizado diariamente com centenas de charges
publicadas nos mais diversos jornais dos Estados Unidos e Canadá.
Ao visitar sites como Cartoon Movement ou Cagle.com, não será difícil
encontrar, inclusive sessões dentro do próprio site, com charges que
remetem a temas religiosos, mesmo em nações tradicionalmente ou
historicamente de maioria católica como Itália e Portugal ou islâmicas,
como Turquia e Egito. No entanto, ao fazer um levantamento das charges
publicadas de cartunistas brasileiros, a temática desaparece, ou, quando
aparece, surge disfarçada. Enquanto na Itália é comum cartunistas
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
16
publicarem em grandes jornais charges criticando a igreja Católica sobre
casos como pedofilia ou ainda o descaso da igreja Católica com os pobres
na África.
No Brasil, um país historicamente de maioria cristã católica, é raro, ou
simplesmente não existem publicações em grandes jornais dessa
temática. Assim, o assunto é tratado pelos jornais, mas não é permitido
ridicularizá-lo fazendo uso da ironia presente na charge.
No entanto, quando feito uma busca na Internet sobre charges com essas
duas temáticas, encontraremos uma diversidade muito grande de charges
publicadas não em grandes periódicos, mas em pequenos jornais
independentes, geralmente publicados apenas na Internet. Isso mostra
que no Brasil o tema é tratado, existem publicações neste sentido, no
entanto, por uma questão de mercado, segundo o Censo realizado pelo
IBGE em 2010, 86.8% da população brasileira, é evangélica ou católica.
No Brasil alguns roteiristas e cartunistas têm-se destacado no cenário
internacional dos quadrinhos, mas obviamente, nenhum se iguala a
Maurício de Souza. Sua principal personagem é uma menina de 7 anos de
idade. Mônica, criada em 1963 como personagem coadjuvante nas tiras do
Cebolinha publicadas em jornais do interior de São Paulo.
Maurício de Souza criou todo um universo para seus personagens. Entre
eles a Turma do Chico Bento. Ao analisar as histórias do personagem
Chico Bento, é possível perceber uma forte conotação religiosa no texto.
Interjeições como “vixi Maria!” ou “cruz credo” são comuns aos
personagens ambientados ao interior paulista, além da constante aparição
eM uMa cHarge Do
iTaliano carDelli
oBserva-se uM ‘conFliTo'
enTre o crisTianisMo
roMano e o islã:
uMa crÍTica ao MacHisMo
PresenTe na religião.
Charge de Giacomo Cardelli publicada no site Cartoon Movemment.
QUADRINHOS & RELIGIÃO
17
de personagens do folclore brasileiro, como os da turma do Papa-Capim,
um pequeno indiozinho habitante da Amazônia.
Uma outra série de Maurício de Souza, a Turma do Penadinho, apresenta
personagens não humanos, mas espíritos, almas, fantasmas e vampiros,
mais uma vez, remetendo a um universo permeado de religiosidade. Por
fim, seu personagem onde essa característica pode ser bastante
explorada é Anjinho, ou Ângelo Ceolino, um menino que virou anjo e
protege os outros personagens da Turma da Mônica.
É BasTanTe coMuM
no universo De
Personagens criaDo Por
MaurÍcio De souza
a TeMÁTica religiosa.
A ‘tradição’ de rezar antes de dormir é representada
em história da edição No 88 de Chico Bento.
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
18
Também o número de traduções de obras é bastante amplo. O ponto fraco
aqui ainda é o preço das publicações traduzidas. Mas livros como
Persépolis, da autora iraniana Marjane Satrapi, onde ela faz uma auto-
biografia em quadrinhos e relata sua experiência como menina na
Revolução Iraniana, e a inserção do islamismo como religião obrigatória ou
ainda o clássico dos quadrinhos escrito por Art Spiegelman, Maus,
vencedor de um prêmio Pulitzer, que no formato de jornalismo em
quadrinhos relata a prisão de seu pai em um campo de concentração
nazista durante a Segunda Guerra Mundial e a questão do antissemitismo.
Agrega-se a isso a presença dos quadrinhos nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), que aparecem pela primeira vez no PCN de Língua
Portuguesa (2008, p. 72), onde os quadrinhos são classificados no quadro
de Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita. E também
no Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), que desde 2006 incluí
histórias em quadrinhos em seu acervo.
04.
ensinando com quadrinhos
Difícil... não impossível.
QUADRINHOS & RELIGIÃO
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As histórias em quadrinhos foram em grande parte dos últimos 100 anos,
consideradas uma subliteratura e uma arte que não era considerada como
tal. O maior mercado editorial de quadrinhos foi duramente atingindo na
década de 1950 quando Frederick Wertham publicou seu livro Seduction of
the Innocent, dezenas, senão centenas de títulos foram recolhidos e as
publicações passaram a seguir um manual de conduta criado pelo Senado
estadunidense com a Subcomissão da Delinquência Juvenil que proibia
alguns conceitos e vocabulários, restringindo a trabalho que por meio
século havia se desenvolvido.
Apenas após a década de 1990, quando o cinema começa a investir na
transposição dos personagens clássicos dos quadrinhos, alguns deles
desconhecidos para o público fora dos Estados Unidos, que a indústria dos
quadrinhos se recupera. Essa busca do cinema, uma arte já estabelecida
CRISTIANISMO, ISLÃ E JUDAÍSMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
A ORIGEM DO SERVIÇO SOCIAL NO MUNDO E NO BRASIL Sandra Nascimento dos Santos1 Silvia Batista Teles2 Clara Angélica de Almeida Santos Bezerra3 Serviço Social ciências humanas e sociais ISSN IMPRESSO 1980-1785 ISSN ELETRÔNICO 2316-3143 RESUMO O Artigo pretende mostrar os aspetos fundantes da Profi ssão de Serviço Social e o seu apo- geu. Descrevendo fatos históricos como o surgimento das primeiras Escolas no Brasil e no mundo, assim como a crise da bolsa de valores de Nova York, e o movimento de 1930, que também afeta o Brasil. O Serviço Social surge como uma resposta dos grupos dominantes, em especial a Igreja Católica, à latente questão social. Parte-se da gênese de que essa concepção inspira uma ideologia de preceitos que leva a conhecer os direitos humanos. A infl uência da mais-valia dentro de uma sociedade dialética. Será mostrado, ainda, que uma das principais bases do modo de produção capitalista é a exploração do homem em rela- ção a sua força de trabalho, o que revela, d
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